Fundação Casa tem 488 adolescentes inscritos para fazer a prova do Enem

29/11/2012 09:21

 

Um grupo de 488 adolescentes que cumpre medidas socioeducativas em 93 unidades da Fundação Casa, em São Paulo, está inscrito para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos dias 4 e 5 de dezembro. É o maior número dos últimos três anos. No ano passado, 105 jovens fizeram as provas.

 

O aumento, segundo a gerente escolar Neuza Flores, se deve ao fato de que nesta edição muitos internos farão as provas para conseguir a certificação do ensino médio, além dos que vão disputar vaga em universidades ou usar o exame para solicitar bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni). O Enem será aplicado por equipes do Ministério da Educação nos próprios centros de medidas socioeducativas e nas unidades prisionais.

As unidades da Fundação Casa abrigam atualmente cerca de 6.300 jovens infratores. A maioria tem entre 16 e 17 anos, e apesar de já ter idade suficiente para cursar o ensino médio, está entre o 6º e o 9º ano do ensino fundamental. Os jovens chegam às unidades com defasagem no ensino muitas vezes porque abandonaram a escola e retomam os estudos durante a internação, já que a atividade é obrigatória. Grande parte é alfabetizada neste período.

 

Foco no Enem


Na Novo Tempo, unidade da Fundação Casa em Franco da Rocha, Região Metropolitana de São Paulo, há um trabalho específico para o Enem. Os oitos meninos que farão as provas têm um reforço de duas horas e meia por dia com simulados e exercícios específicos há quatro meses. É o momento para eles tirarem as dúvidas da disciplina que mais os aflige: matemática.

“Número é difícil de decorar. Nunca repeti de ano, mas dá medo de não conseguir lembrar tudo na hora da prova. Estou me dedicando, tenho força de vontade, cometi um ato infracional, mas quero mudar minha vida”, diz o jovem de 17 anos que quer estudar engenharia de petróleo.

Os cursos de enfermagem, mecânica, publicidade e direito estão entre os sonhos dos jovens da unidade de Franco da Rocha que farão o Enem e pretendem cursar uma faculdade. Eles dizem apostar na educação para conseguir conquistar sonhos e reescrever a história de suas vidas.

“O Enem abre portas, e se eu me arrisquei por uma algo ruim, também tenho de me arriscar para conseguir algo bom. Tenho vontade de vencer”, afirma o garoto de 18 anos que pretende seguir carreira em publicidade.

Os jovens não revelam qual foi o ato infracional que os tirou a liberdade. Quando questionados dizem que preferem não contar porque o crime faz parte do passado, estão arrependidos e agora pagam sua dívida com a sociedade.

 

 

Ensino superior


Quando saem as notas do Enem, as unidades avaliam as possibilidades de inscrever os internos no Sistema Integrado de Seleção de Unificada (Sisu) que oferece vagas em universidades públicas ou no Programa Universidade para Todos (Prouni) que distribui bolsas de estudo para universidades particulares. No início deste ano, nove internos foram matriculados no ensino superior, um número recorde.

Se aprovado, o menino precisa de uma autorização judicial para frequentar as aulas. O adolescente pode tanto ser desinternado, ter uma mudança do regime da medida (passar de regime privado a semi-liberdade, por exemplo) ou no último caso, assistir às aulas acompanhado por um funcionário da Fundação, dependendo do histórico do interno. O juiz também pode impedir que o adolescente estude, o que ocorre em alguns casos, e negar a autorização.

“Alguns juízes ainda não autorizam e fecham essa ponte. A educação é essencial, inclusive, para que esse meninos não cheguem à Fundação. Se houvesse uma educação pública de qualidade, o número de internos cairia muito”, afirma Neuza Flores, gerente escolar da Fundação.

Em 2011, mais de 14 mil pessoas privadas de liberdade foram inscritas no Enem em unidades prisionais ou de medidas socioeducativas. As provas foram aplicadas em 527 unidades de todo o país. Os números deste ano ainda não foram divulgados pelo Ministério da Educação.

 

fonte :G1